INTRODUÇÃO
Todo o cristianismo parece sentir a necessidade de ser repensado diante da explosão das “religiões do Espírito”, com uma capacidade invejável de influenciar e mobilizar as massas. [1] De um singelo culto de ação de graças regado por manifestações glossolálicas realizado na viragem do século, sob a liderança de Charles Parham na presença de alguns de seus alunos na Escola Bíblica Bethel, em Topeka, KA, para um movimento considerado como a terceira grande força da história da igreja, [2] o crescimento do pentecostalismo, especialmente no Brasil, tem desafiado a certeza histórica do protestantismo tradicional e até da própria Igreja Católica Romana. [3] Seu crescimento extraordinário tem despertado interesse e questionamentos até em alguns círculos adventistas. Teríamos chegado, como insistem os pentecostais, à Era do Espírito? [4]
Neste artigo apresentaremos, em primeiro lugar, um sumário do desenvolvimento histórico das igrejas pentecostais mais significativas no Brasil. Depois, faremos uma análise dos possíveis fatores que contribuíram para o crescimento desta recente manifestação de espiritualidade cristã. Por fim, faremos uma breve avaliação crítica, tendo como base o pensamento escatológico da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
O movimento pentecostal moderno deve seu surgimento e institucionalização à influência do pregador reavivamentista americano Charles Finney que, junto com o Movimento de Santidade (Holiness Moviment), promoveram a idéia de que o verdadeiro cristão deveria passar por uma experiência subseqüente à conversão, chamada de “batismo do Espírito Santo”. Pouco tempo mais tarde, esta experiência é identificada com o “falar em línguas” do Pentecostes de Atos 2. Tal manifestação especial, às vezes considerada como a segunda ou até como a terceira bênção, tornou-se a base do movimento iniciado por William J. Seymour que, a partir de 1906, torna famosa a antiga Igreja Metodista Episcopal Africana da Rua Azuza, 312, em Los Angeles, agora sob o nome de Igreja da Fé Apostólica. [5]
I. PRIMERIA ONDA
Embora o movimento iniciado por Seymour deva ser reconhecido como precursor de uma tendência religiosa que se espalhou pelo mundo, tendo como base o “dom” glossolálico enquanto evidência da plenitude do recebimento do Espírito Santo, foi a igreja do pastor batista W. H. Durham, em Chicago, que serviu como principal protagonista para o estabelecimento das duas primeiras igrejas pentecostais no Brasil: a Igreja Assembléia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil. [6]
—> Assembléia de Deus
Daniel Berg e Gunnar Vingren, os fundadores da Igreja Assembléia de Deus no Brasil, eram dois operários suecos que imigraram para os EUA no início do século. Berg logo entrou em contato com a igreja de W. H. Durham, sendo pouco tempo mais tarde “batizado com o Espírito”. Vingren, por sua vez, chega a estudar num seminário batista de origem sueca, mas em 1909 também recebe o “o dom de línguas”. Os amigos Berg e Vingren se encontravam em visita a Adolfo Uldin, em South Bend, IN, quando tiveram a “revelação” de que deveriam pregar no “para”. Com o auxílio de um mapa-múndi, acharam o Estado do Pará, no Brasil, e reconheceram que seria este o seu território missionário. Buscaram recursos financeiros e em seguida viajaram para o Brasil, saindo de Nova York em 5 de novembro de 1910. [7]
Berg e Vingren chegaram a Belém ainda no final de 1910 e logo se hospedaram numa igreja batista pastoreada por Euric Nelson, também de origem sueca. Ali, iniciaram a expor suas idéias “pentecostais”, despertando, naturalmente, séria oposição. Em conseqüência, foram desligados da igreja em 13 de junho de 1911 com outros 18 adeptos. Assim, com este pequeno grupo, em 1911, em Belém do Pará, é fundada a Igreja Assembléia de Deus no Brasil. [8]
A expansão das Assembléias de Deus se deu, em primeiro lugar, nas regiões Norte e Nordeste, chegando a São Paulo somente em 1927. Por volta de 1930, eram já cerca de 15 mil membros no Brasil. Com o crescente fenômeno de urbanização proletária ocorrido nas grandes cidades, a igreja se desenvolveu consideravelmente. Hoje, de acordo com a Associação Evangélica Brasileira, são cerca 15 milhões de fiéis. No entanto, estimativas mais conservadoras apontam para um número que não ultrapassa os sete milhões de membros praticantes. Com a ascensão social de muitos de seus membros, ocorreram mudanças significativas em vários dos costumes tradicionais da igreja, tais corno: a proibição da TV, rádio, cinema e o uso de vestimentas “indecorosas”. [9]
As Assembléias de Deus estão organizadas em uma Convenção Nacional que sofre limitações administrativas decorrentes do congregacionalismo. Mesmo assim, existe uma hierarquia institucional gestada por pastores. A divisão em ministérios regionais semi-autônomos, como por exemplo o do Belém, de Santos e de Madureira, lembra o sistema administrativo presbiteriano. Hoje, possuem uma série de institutos bíblicos (seminários) e uma editora de renome, a Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD)
Por Prof. Edilson Valiante
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